quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Ana,

Um dia você vai estar tranquila, feliz, leve, achando que nada pode dar errado, já que você só está cumprindo a tarefa de deixar ser, de ver o mundo a sua volta com olhos de um compositor de bossa nova, sereno. Então você vai chamar a atenção, vão querer provar do seu encanto e vão se encantar antes mesmo de entrarem na sua sintonia porque leveza é assim, transborda. E você vai se permitir viver tudo isso a dois, por que não? Conhecer o outro, trocar, experimentar, também é tão bom quanto sorvete de flocos no calor. Então você vai descobrir que quem quer se apresentar é ele e que ele não vê a hora de ajudar vocês a serem felizes juntos. Você vai ser invadida por uma paz enorme, Ana, e vai entender que estar feliz a dois é poder não só compor a bossa, mas também cantar e tocar ao mesmo tempo sem perder o compasso. Ah, o compasso... Às vezes ele trai a gente, Ana. E você vai ver que não da pra fazer o solo da gaita e cantar a letra sozinha, por mais que você ache que é a Ana mais segura que existe ou que nada pode te atrapalhar. Mas atrapalha, Ana, porque não temos o controle de tudo, ah se tivéssemos! E, principalmente, não temos o controle do outro. Um dia vocês dois vão tocar a música e perceber que estão em ritmos diferentes. E vão parar um pouco e combinar que, na próxima vez, vão estar no mesmo compasso. Mas Ana, o que não vão te dizer é que não da pra prever a música que o outro vai começar a cantar. Nem achar que porque você o ensinou a dançar forró ele vai sempre acertar no dois pra lá, dois pra cá. Talvez ele prefira só olhar você no salão enquanto toca a zabumba. E aí você vai dançar sozinha a dança dos dois, Ana, e nem vai ver quando ele parar de te olhar. Não vai ser por querer, mas é que às vezes outras coisas nos chamam mais a atenção do que aquelas que já temos. O novo é lindo, Ana! Vai ser assim quando ele se encantar por você e também quando ele começar a se encantar por outras coisas. Então você vai ficar sem entender isso da novidade, porque não vai ter percebido que quem vai ter se encantado também é você por ele. Mas vai ser dessas coisas que falam pra gente que descobrimos tarde demais, Ana. Sim, você vai passar por isso e não vai conseguir dormir à noite, mesmo querendo que tudo não passe de um pesadelo. E é aí que você vai descobrir o quanto é frágil. Vai ter o mundo de amigos batendo à porta enquanto só vai querer continuar trancada no quarto enchendo seu travesseiro de porquês. É que ver o mundo lá fora, Ana, também pode ser ruim. Você pode esperar pelo dia de sol e de repente começar a chover. Geralmente é quando a gente descobre que existe uma palavrinha chamada decepção e que ela começa em nós e na nossa mania de esperar que a vida siga nossos planos. Não segue, Ana, mas segue. E você vai ter que seguir a sua mesmo com a mudança de rota. Vão aparecer atalhos e caminhos floridos, você vai poder seguir à pé ou de bonde, quem sabe? E num desses dias de andar pelo mundo sozinha de novo você vai se descobrir uma Ana diferente. Isso pode ser bom ou ruim. Mas nesse dia, Ana, torça para não ter caneta e papel na bolsa. Escrever é lembrar e guardar pra ler de novo depois. É falar com Anas, Marias, Amélias e outras desconhecidas. 
Prazer, Ana, e não esquece que nem sempre estamos no controle.

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