quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Pra gente dançar


Você afinou seu melhor instrumento pra mim. Fez canção dos seus desejos e segredou cada palavra que cantou pro mundo. Eu ouvi espiando, embalada no seu som que me cobria por inteiro, até alcançar e resgatar o lugar em mim que sempre foi seu. Hoje eu canto minha prosa pra você. Guardei a sete notas meu recomeço e, no nada de compor que sei, alinho meu carinho no seu tom. 
Dança comigo essa noite, que eu vivo da primeira linha até aqui sem olhar pra trás pra não apagar a sua sensação em mim, essa que move minhas palavras. Olha aqui, toma minha paz, meu querer que você sabe que é seu. Deixa eu te prender no meu sorriso e em cada esquina do meu olhar, se faz de fraco e segura minha mão. Suas fugas sempre acabam em nós que puxamos cada um em uma ponta tentando afastar e apertando ainda mais nossa ligação a cada passo pra trás. Mas por agora dê dois passos mais pra perto que eu te envolvo com meu braço e, dois pra cá, dois pra lá, a gente embala até o fim da nossa canção.
Vamos ser piegas hoje mais que ontem e tanto quanto nunca fomos. Eu sei que o final é bom porque hoje quem canta a prosa sou eu. Tenho o melhor de mim pra te oferecer aos poucos até te embriagar. Daqui pra frente o que tenho aqui vai guiar nós dois. Não se preocupa, quando tudo acabar a gente volta pro refrão. Nós sempre voltamos.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Sobre medos e bolsos


Foge não, mais quatro minutos e a sua menina vai estar no local combinado, esperando por você e todas as coisas que você disse ter pra falar com ela. Tire sua coragem do bolso, faça seu medo ficar pequenininho tal como naquela sua prova da faculdade ontem, mostre que você pode. E mostre isso a você mesmo. Levante a cabeça e me diz se você acredita nesse cara atrás do espelho embaçado. Também acredito. Então, que te falta? É o telefone dela que você não consegue esquecer e que espera ver aparecer na tela do seu celular, foi pensando nela que você dormiu noite passada, é com ela que seus sonhos de vida feliz fazem sentido, os sonhados dormindo e acordado. Agora corra, você tem só dois minutos até estar com ela, mas pode ganhar uma eternidade tendo-na ao lado se esquecer esse orgulho que, cá entre nós, é o que te prende de verdade. Ela já reconheceu o erro vindo ao seu encontro e agora é a sua vez de mostrar como se faz, como se abraça, como se beija, como se sente o amor. Mas vá rápido, foge não, ela já está te esperando.

(10/07/2011)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Zoom


Quando deu por si estava na Central do Brasil, sozinha, 18:23. Se consideravam-na de baixa estatura, ela sentia perder um centímetro a cada dez pessoas que cruzavam apressadas seu caminho. Entrou em um dos vagões e, de pé, sintonizou seu mp3 em Djavan. Se consideravam-na de baixa estatura, ela sentia ganhar um centímetro a cada dez sequências de frases bem cantadas e que pra ela faziam todo sentido. Fitou a janela por entre duas cabeças de pessoas com histórias diferentes e mirou um ponto fixo onde o foco encontrava ora céu, ora muro, ora rostos. Quando céu, agradava. 18:31, era céu, deu zoom e ali se perdeu.
Só eu sei as esquinas por que passei, só eu sei que, mesmo diante de tanta gente, o que olho em cada um é a ausência de um ato seu capaz de me tirar o ar, as palavras, o medo. Estou aqui sem você e cadê naquele rapaz de aparentes vinte anos a iniciativa de se levantar e ceder seu lugar à senhora à frente dele? Ela agradeceria com a mesma felicidade que sente ao receber um beijo de um neto. E na moça com o homem de pólo verde ao lado, onde está a atenção? Ele parece triste, só quer que ela converse um pouco, mas de onde estou posso vê-la colocando o fone no ouvido oposto. Sabe lá qual dessas pessoas tem um abraço que aperta angústias até que elas desapareçam, tal qual o seu; não encontro alguém do seu jeito nesse vagão. E se encontrasse, ah, que fosse você. E quem será na correnteza do amor que vai saber me guiar?
18:36, já não importava. A música seguinte era uma baladinha animada, ela recuou o zoom e olhou pro lado, ainda não era a sua estação. Voltou o olhar à janela e entre as duas cabeças de pessoas com histórias diferentes parou uma terceira. Perdeu o foco.

(06/07/2011)

 (Esquinas, Djavan)
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