quinta-feira, 14 de maio de 2015

Relógio

Relógio

Tem horas que é preto o branco. Tem horas que só quero tirar os óculos e escolher sentir a miopia com todos os seus efeitos turvos e necessários. Tem horas que o aperto é grande e um batalhão de coisas pra fazer tomam conta da minha cabeça, mas eu só preciso ser ouvida, só preciso me ouvir no silêncio que cabe em olhos fechados. Tem horas que eu escolho ouvir música em inglês pela letra, ou melhor, pela possibilidade que tenho de ignorar a letra, não prestar atenção e ser levada pra longe pelo som esquisito que sobra. Sou capaz de um shuffle de todos os álbuns de Smiths, Tame Impala e Jeff Buckley juntos. Tem horas que eu quero que tudo que me dizem seja engolido de volta e entalado na garganta de quem falou, pra incomodar bastante. Tem horas que eu quero que seja noite e tem horas que a vontade é de fugir pra outro país, com uma mochila nas costas e sem telefone, pra ter que começar tudo de novo, do zero. Tem horas que eu quero me obrigar a ser o melhor de mim e tem horas que eu tampo os dois ouvidos com as mãos e repito "take it easy" umas 20 ou 200 vezes pra mim mesma. Tem horas que eu quero sacudir as pessoas, dar um tapa na cara pra acordar e berrar um "alôu, sou eu e tô aqui, não perde tempo". Tem horas que sou em quem perde tempo. Tem horas que sou eu quem perde.
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