segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Zoom


Quando deu por si estava na Central do Brasil, sozinha, 18:23. Se consideravam-na de baixa estatura, ela sentia perder um centímetro a cada dez pessoas que cruzavam apressadas seu caminho. Entrou em um dos vagões e, de pé, sintonizou seu mp3 em Djavan. Se consideravam-na de baixa estatura, ela sentia ganhar um centímetro a cada dez sequências de frases bem cantadas e que pra ela faziam todo sentido. Fitou a janela por entre duas cabeças de pessoas com histórias diferentes e mirou um ponto fixo onde o foco encontrava ora céu, ora muro, ora rostos. Quando céu, agradava. 18:31, era céu, deu zoom e ali se perdeu.
Só eu sei as esquinas por que passei, só eu sei que, mesmo diante de tanta gente, o que olho em cada um é a ausência de um ato seu capaz de me tirar o ar, as palavras, o medo. Estou aqui sem você e cadê naquele rapaz de aparentes vinte anos a iniciativa de se levantar e ceder seu lugar à senhora à frente dele? Ela agradeceria com a mesma felicidade que sente ao receber um beijo de um neto. E na moça com o homem de pólo verde ao lado, onde está a atenção? Ele parece triste, só quer que ela converse um pouco, mas de onde estou posso vê-la colocando o fone no ouvido oposto. Sabe lá qual dessas pessoas tem um abraço que aperta angústias até que elas desapareçam, tal qual o seu; não encontro alguém do seu jeito nesse vagão. E se encontrasse, ah, que fosse você. E quem será na correnteza do amor que vai saber me guiar?
18:36, já não importava. A música seguinte era uma baladinha animada, ela recuou o zoom e olhou pro lado, ainda não era a sua estação. Voltou o olhar à janela e entre as duas cabeças de pessoas com histórias diferentes parou uma terceira. Perdeu o foco.

(06/07/2011)

 (Esquinas, Djavan)

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